
Para especialista, escândalos e vícios que mancham a democracia brasileira refletem contradições da própria sociedade
Rodrigo Ferrari
24/05/2009
Há menos de oito meses, aproximadamente 130 milhões de brasileiros foram às urnas para escolher os prefeitos e integrantes das câmaras municipais ao redor do País. Só em Bauru, além do chefe do Executivo, Rodrigo Agostinho (PMDB), foram eleitos 16 vereadores - dos quais 12 eram novatos - em meio a centenas de candidatos.
Você, leitor, é capaz de se lembrar em quem votou para vereador nas últimas eleições municipais? Quantas vezes, nos últimos anos, compareceu a uma sessão da Câmara para acompanhar de perto o desempenho do parlamentar que você ajudou a eleger? Quantas vezes parou seu candidato na rua para cobrá-lo a respeito das promessas feitas em época de campanha?
Na última sexta-feira, em um Calçadão repleto de gente, a reportagem do Jornal da Cidade tentou realizar uma singela pesquisa com as pessoas que por ali passavam. A pergunta era: “O que você acha dos políticos brasileiros?”
A reação dos indivíduos era óbvia - rostos que se contorciam e interjeições de desprezo. Durante 20 minutos, porém, nenhuma das dezenas de pessoas abordadas aceitou se manifestar “oficialmente” a respeito do assunto. “Não gosto muito de falar de política” - era a evasiva mais usada pelos candidatos a entrevistados.
Esse caso ajuda a dar uma idéia de como o brasileiro se relaciona com a política - uma relação fria e distante. Políticos não prestam, políticos roubam, políticos são corruptos, políticos mentem... Todavia, quase ninguém ousa fazer uma pergunta aparentemente simplória: “Como tanta gente desonesta consegue se eleger?”
Talvez as pessoas se esquivem dessa questão por saberem que existem traços de impressões digitais do cidadão comum em escândalos como o recente, das passagens aéreas. “O pior deste País somos nós. O Poder Legislativo é ruim, por exemplo, porque é um retrato fiel de nossa sociedade. Reclamamos do ‘mensalão’ e do deputado corrupto, mas não temos pudor em sacanear o Imposto de Renda”, dispara o consultor do Movimento Voto Consciente Humberto Dantas, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP).
Na visão dele, a baixa qualidade da política brasileira é reflexo de contradições existentes na própria sociedade. “O problema aqui é cultural. As pessoas ainda acham que cidadania é não jogar papel no chão”, diz Dantas.
Artigo na íntegra.
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